Amor Voltou
Demorou, mas voltou.
Várias vezes perguntei se eras tu.
Várias vezes te considerei.
Várias vezes fiz cenários na minha cabeça,
do como seria se estivéssemos juntos.
No entanto,
a resposta era sempre a mesma.
Era um amor impossível.
Começou há 2 anos.
Começou com uma certa tensão invisível,
que ambos não entendemos.
Ambos sabíamos que algo estava diferente, entre nós,
mas decidimos guardar para nós próprios.
O meu cérebro começou a questionar o meu corpo,
pois este aproximava-se de ti,
quase que involuntariamente.
Mas ao mesmo tempo, voluntariamente.
Quando dava por ti, estavas ao meu lado.
Mas eu também nunca saia.
Algo nos puxava um para o outro,
naturalmente,
sem esforço.
Íamos tentando ignorar,
mas tornou-se cada vez mais difícil.
Certa noite o universo decidiu dar-nos uma chance,
que aproveitámos,
mas a medo. Estava a beijar a minha melhor amiga.
Foi estranho.
Mas bom.
Tão bom.
Durante os dois anos seguintes,
criámos uma sociedade secreta juntos,
em que só nós sabíamos o código e a regra de ouro.
Criámos até uma linguagem corporal própria com o tempo,
para que ninguém descobrisse o nosso segredo.
Hoje sei que falhas não faltaram no nosso plano,
pois todos à nossa volta perceberam, quase desde início…
Talvez foi a química de um amor em construção, descarada,
que nos denunciou, sem sabermos.
Sem sabermos que o estávamos a construir, sequer.
A regra de ouro,
era não passar a linha do sentimento.
Que ingenuidade.
Queríamos estar juntos,
mas era um amor impossível.
Impossível,
devido às circunstâncias em que nos encontrávamos.
Circunstâncias estas que me ofuscaram a visão,
durante muito tempo.
O medo de perder a minha melhor amiga de uma década,
por pisar a linha proíbida e não saber lidar com isso.
O medo de destabilizar a nossa família de amigos,
que podia estranhar e não entranhar.
O medo de perder a amizade de um irmão,
por um amor antigo, que não foi meu.
Medo disto… medo daquilo….
Mas medo de quê ? Pergunto-me hoje.
Na altura fazia sentido.
Não nos julgo por os termos.
Mas foram filmes que fizemos na nossa cabeça,
que não mereciam audiência.
Mais eu que tu.
No entanto estávamos só a evitar o inevitável.
Eu estava, a certo ponto.
A arranjar desculpas para mim mesmo, para não te amar.
Pensava que não te amava, por isso mesmo.
Estes medos fizeram com que me afastasse de ti.
Não fisicamente, mas psicologicamente.
Vezes sem conta.
Porém, andei em círculos durante dois anos,
pois voltava sempre a ti.
Tentava sair e procurar nesta ou naquela os teus traços,
inconscientemente.
Mas nenhuma é como tu.
Só há uma de ti, felizmente.
Há dois meses disseste o que sentias por mim.
Corajosa.
E eu, devido aos mesmos medos de sempre,
disse que não te conseguia acompanhar nesse caminho.
Vou-me arrepender para o resto da minha vida,
ter-te deixado com essas palavras, naquela noite.
Decidimos parar de vez.
Só que não parámos.
Como sempre.
Nada mudou, pois uns dias a seguir,
estávamos juntos de novo.
Quando é para ser é para ser,
e não há nada a fazer.
A facilidade com que voltei para ti,
assustou-me de início.
Mas pôs-me a pensar.
Pela primeira vez,
o meu corpo começou a concordar com o meu cérebro.
Comecei a considerar, mas desta vez a sério.
Deixei o meu coração entreaberto,
só para ver o que acontecia.
Os dias foram passando, e
tu foste-o abrindo, centímetro a centímetro.
Já não me lembrava bem o que era amar alguém,
mas sabia que quando acontecesse,
eu ia saber que o estava a sentir.
E o que tenho sentido,
é que tenho saudades tuas, mal sais de ao pé de mim.
