Café hoje ?

Fim de tarde.

Mensagem no grupo de whatsapp.

”Café hoje ?”

”Bora”.

 

Janta.

Veste.

Perfume, nunca se sabe.

Sai de casa.

Liga carro.

Bota hip hop tuga.

Acende cigarro.

Siga. 

 

É hábito, mas não cansa. 

 

Um ”bora beber café”,

parece simples, mas nunca é.

O ”café” é conectar com a realidade.

Estar vivo.

Olhar nos olhos.

Contacto.

Ser humano. 

 

Um ”oi” com a cabeça a conhecidos.

Bacalhau de mão cheia a amigos.

Abraço à chegada, aos mais chegados.

Um olhar pelo espaço,

para ver que vibes andam por aí hoje.

Mesa livre.

Senta.

 

É ouvir histórias da semana de trabalho deles.

Também histórias antigas, que incrivelmente nunca vieram à baila.

Já os conheço tão bem e há tanto tempo,

mas ainda assim conseguem trazer uma nova de vez em quando.

Magnífico. 

 

 

É dizer o que vai no peito.

Discussões sobre o que se passa pelo mundo,

e o que se passa dentro do nosso, mais pequeno.

É relembrar momentos que hoje se guardam em fotos e vídeos,

e ligeiramente na memória. 

 

São pontos de situação.

”Como é que tu estás ?”.

”A tua mãe, está melhor ?”.

”Já mandaste aquela bitch do trabalho dar uma volta ?”.

”Quando é que começas ?” ou ”Quando é que acabas ?”.

”E ele, já te respondeu ou deu vista ?”. 

 

É sair de casa,

porque é preciso sair de casa.

 

Ver caras,

novas e antigas.

Ver a tua,

outra vez,

que chama sempre por mim. 

 

Nunca fui de ir falar à primeira.

Tenho um certo medo, não vou mentir.

Línguas falam muito por aqui, também.

Não estou para isso.

Gosto de levar algum tempo,

para ir vendo do que é que és feita.

Quem são os teus amigos ?

Quem és tu para os teus amigos ?

Deixa-me ir vendo como misturas a roupa,

e o que queres dizer ao mundo sem falar, através dela. 

 

Hm… estás bem hot hoje.

Nada de novo, na verdade.

Dizem para não brincar com o fogo,

mas eu punha a mão em ti, sem pensar muito. 

 

Gostava que o tempo parasse para nós dois,

nos próximos 5 minutos,

para te dizer o que me vai realmente na mente.

Tenho reparado que esse olho convidativo tem reparado em mim,

e também tenho reparado em ti, acho que é óbvio.

Faz tempo, aliás.

Mas não te vou falar agora, porque não ia ser eu mesmo se fosse.

Pode ser que leias este, um dia,

e percebas que é para ti.

 

Pode ser que uma noite destas os planetas se alinhem,

tal como as linhas de copos nas nossas mesas,

inibidores de timidez,

e nos empurrem para o destino que pode ser nosso,

até agora adiado.

Quem sabe, um beijo na boca, ou mesmo dois ou três orgasmos.

Pode ser que seja hoje, vamos ver o que acontece. 

 

Quem sabe até uma história de amor,

daquelas cuspidas em pautas portuguesas.

Agora que falo nisso,

um beat vem-me à cabeça,

enquanto dou lume a mais um cigarro.

Será que me estou a inspirar,

nas canetas tugas que vim a ouvir no carro ? 

 

Se calhar estou,

porque penso que podíamos ter um romance de cinema,

mesmo se não tivesse nenhum nexo.

Alguns dramas, mas sem dilemas,

com pouco grito e muito sexo.

 

Estamos os dois neste bar, ou Alcool Club.

Saiu-me um coração com uma seta no meio,

deste bafo sem receio.

Queres ser a minha rainha sem coroa ?

Conduzo como um fora da lei, com depósito cheio,

nas linhas do teu corpo,

que com uma voz rouca de Bezegol eu leio. 

 

Esse corpo é uma bomba atómica,

anatómica,

que me tem enfeitiçado que nem voodoo.

Não sei se é dos drunfos que o doutor me deu,

ou dos feitiços da Bruxa, de nome Mary Bu.

Teríamos noites tão longas,

como aquela do Halloween, aos 16 anos.

Agarrados a relembrar os tempos de imprudência,

sem pensar em consequências,

vividos com pressa, os nossos melhores anos.

Mas calma meus manos. 

 

Ia dizer-te o que sinto,

porque sai-me por instinto,

sem bloquear como o android do Xtinto.

Aposto que ninguém te disse antes,

tais brilhantes diamantes,

e acredita que no papel eu não minto.

 

Olho para ti e a cabeça só diz go go go,

e se calhar, já devia mesmo ter ido.

Ando a olhar-te desde o verão passado.

Como tens passado ?

E tens namorado, ou o coração partido ? 

 

Tão bem feita, mas essa saia dá-me um sentimento misto.

No entanto, olha só para nós os dois,

se agora estamos bem, imagina depois.

Tens é de vir com a mentalidade free, já dizia o Bispo. 

 

Será que comigo te vinhas pela noite fora, até ficar de dia ?

Se tu ao menos soubesses, subias, ao contrário da Sofia.

Podíamos ir bem depressa,

mas se quiseres, vamos Slow J.

Espero-te com a vontade da Vanessa,

porque prometo que não bazo como o Valete,

isso eu sei. 

 

 

Podias ser a minha blunt, nos sunsets do oeste,

com o escorpião a dar na coluna.

Neste Mundo Secreto só nosso,

se meteres a mão no ar,

posso ser o teu Profjam e tu a minha aluna.

Se te fizesse uma mixtape, sem mistakes, tipo Mixtakes,

vinhas à minha festa privada ?

Como os illuminati,

o meu olho estaria atento a ti,

a minha única convidada.

 

Ficas já a saber que este coração não tem dona,

e não sei se alguma vez te conquistaram com um poema.

Mas serias tu,

porque sinto a puxar por nós, esta Força Suprema.

 

Realmente sonhar nesta vida não chega,

e tu tens sido uma pedra no meu sapato.

Podíamos ser breakdance, graffiti, dj, mc, beatbox, streetwear…

Isto sou eu e és tu, a partilhar pelos olhos,

um simples contacto. 

 

Foda-se, já me distraí contigo. 

 

Está tudo a rir na minha mesa.

Perdi a piada que saiu.

Já volto a ti linda.

”Ele disse o quê ? Não ouvi desculpa.”

 

Nunca é só um café.

É cerveja para cima.

1 ou 3.

Às vezes 15, sem querer.

 

É falar alto, por cima do som de fundo.

Olhar para os outros, que tiveram a mesma ideia de vir hoje.

Histórias parecidas à minha, ou não,

com personagens diferentes.

Tentar adivinhar idades, para dentro.

Mas vocês estão a falar do quê ?

E a beber o quê ?

Quem és tu ? Nunca te vi por aqui.

Nunca fui à bola com este gajo. 

 

”Oh, mais quantas jolas ?”

”Tou com bue pouca bateria, quando chegar a casa mando-te.”

”Dá aí isqueiro.”

”Vi um filme lindo ontem, ias adorar.”

”Malta, o que é que achavam de irmos…”.

”Eles namoram ? Não fazia ideia.” 

 

”Bora beber café hoje ?”.

Está-se tudo a foder para o café.

Queremos é ouvir as vozes uns dos outros.

Queremos rir.

Uma ou outra fofoca,

para temperar a vida.

 

É sair entusiasmado de casa,

com uma história nova na ponta da língua.

Certinho que vai espalhar umas gargalhadas pela mesa.

Mal posso esperar. 

 

Que tragédia seria ter ficado em casa.

Se calhar até me apetecia, por um lado.

Filmezinho, perna para cima.

Roupa que pode vincar e estamos-nos a cagar.

Ir à casa de banho sem pedir a ninguém para passar.

Não ter que estacionar e destacionar.

Mas ia perder isto.

Não compensa. 

 

O filme podemos ir parando e vendo.

Pode esperar.

A vida não. 

 

Corre a 120 km/h.

Temos que ir tentando acompanhar, pelo menos a 90.

Fazer umas pausas, claro.

Mas não demasiadas.

 

Uma vez tive para ficar em casa,

em vez de um copo com um grande amigo.

Mas fui.

Um copo lá acabou por se tornar em 27.

Noite incrível, até às tantas.

Uns dias depois soube que essa,

ia ser para sempre a minha última memória com ele. 

 

Nunca se sabe a história que vai ser contada durante anos,

da qual vais ter pena de não ter participado.

A piada que não vais ouvir.

O teu próximo amor para a vida, ou mesmo um simples papo,

que nunca vais conhecer.

O teu último abraço a um irmão. 

 

E eu hoje quase que ia ficar por casa.

Nem pensar.