SoMoS HoMeNs
Século XXI.
2023.
Janeiro.
Tenho 22 anos, quase 23.
Sou um homem.
Homem…
Como é visto o homem de hoje ?
Ao olho feminino,
foi mudando à medida que os séculos passaram mas,
sei que hoje,
a ideia de ”homem” está manchada pelas ações de uma minoria de mentes envenenadas.
Meninas, mulheres e senhoras,
nós sabemos que uma mão cheia de homens vos tratou e trata mal.
Pedimos desculpa por eles, mas garanto-vos que a maior parte de nós não é assim.
A maior parte de nós quer o vosso bem.
Queremos derreter com os vossos sorrisos.
A maior parte de nós tem mães,
avós, irmãs, tias, primas, amigas, namoradas, mulheres,
que nos ensinam todos os dias a tratar-vos como merecem.
A respeitar-vos.
A apreciar uma mulher por tudo o que ela é.
Então, peço-vos um favor.
Parem de nos generalizar como vilões. Não o somos.
Eu percebo o porquê,
mas nós não temos a culpa.
Nós sabemos quem a tem.
A culpa é tua,
otário do Honda Civic rebaixado.
Poluis as ruas com o som de raters, o teu maior orgulho.
Lanças piropos fracos e previsíveis, pelo vidro aberto.
És o Schummacher da Barosa,
que apitas cada vez que um rabo de saia passa pelos teus olhos.
Patético.
A culpa é tua,
que enganas a tua namorada cada vez que a olhas nos olhos e dizes ”amo-te”.
Cospes essa palavra como uma pastilha sem sabor,
quando tens dois papos em andamento no instagram,
e cabelos compridos de cor diferente no banco de trás do carro.
A culpa é tua,
autointitulado ”Macho Alfa”.
Cérebro esculpido a cimento.
Comes-te ao espelho no ginásio.
Tão egocêntrico que procuras estrelas no teu céu da boca.
Não sei o que é maior,
o teu bicep ou o teu ego.
Galo bravo de crista empinada, que acha que manda em todos os
galinheiros.
Mauzão da tua rua que olhas de cima para todos.
Levantar ferros não dá colhões oh boneco.
Desiste da cara de mau, antes que eu pique esse peitoral
insuflado com uma agulha, e vás de voo para Saturno.
A culpa é vossa,
rappers dos últimos anos e funkeiros.
Lil Fútil e Mc Oco.
Ostentam os rios de dinheiro em que nadam e a quantidade de bitches objetificadas que têm atrás.
”Abana o rabo” para ali, ”Senta não sei onde” para acolá.
Música tão vazia como Chernobyl em 87’.
Falem a verdade.
Falem do bolso raso que têm, tão fundo como uma piscina para
putos e das gajas que NÃO fodem.
Saudades do Sam e do Valete,
que nos ensinavam sobre a vida, amor e a usar preservativos.
A culpa é tua,
gamer viciado em realidades irreais.
Soldado dos ecrãs, que bates continência a meia dúzia de pixels.
Choravas pela tua mãe no segundo dia de recruta.
Campeão do fifa, mas vês o jogo do banco na vida real.
Tens a tua namorada nua na cama a um braço de distância,
e preferes estar de cu sentado numa cadeira de 500€,
que parece um cockpit de um f16 que nunca viu a guerra.
Seu merdas.
Pega nesses dedos hiperativos,
e passa-os no corpo dela.
É real, acredita.
Tenho pena de ti miúda, juro.
Também tenho 10 dedos, mas os meus são hiperatenciosos.
Liga-me.
A culpa é tua,
garanhão da noite.
Predador da selva, que sai no escuro para caçar.
Ouviste em algum lado que se fores convencido e inconveniente,
elas ficam malucas por ti.
Chato como um mosquito no quarto às 2 da manhã.
Tentas 10 raparigas na discoteca, levas 9 barras.
Lá vai a décima,
desesperada como tu, ou
com os padrões baixos a seguir a uma garrafa de vinho branco e
três shots de tequila.
Fodeste isto para o resto de nós.
Agora não querem falar connosco, claro.
A culpa é tua,
seu porco.
Invasor de dm’s das meninas bonitas nas redes sociais.
Abres conversa com pick-up lines que nunca causaram mais que um
revirar de olhos doloroso,
tão batidas como claras de ovo em castelo.
Dick pics com má iluminação.
Estás à espera de conseguir o quê com isso ?
Vá lá caralho… usa o cérebro que a tua mãe te deu.
A culpa é tua,
magnata dos bolsos fundos, com o teu complexo de Napoleão.
Pensas que todos os pares de pernas se abrem por um preço.
Estás convencido que a nota preta disfarça os teus defeitos.
Infelizmente, ainda vais pescando umas,
que carregam consigo almas corrompidas,
agarradas ao desejo de bens materias e vidas cheias de nada.
Namoradas do dinheiro,
que sabem bem que ele vos engana quando diz que vos ama.
Amor próprio é o amante, muito de vez em quando e às escondidas.
A culpa é tua,
pai que abandona os filhos e a mulher,
com o teu egoísmo e cobardia.
A culpa é tua,
violador,
com o teu sadismo desumano.
A culpa é tua,
agressor doméstico,
com a tua cabeça fraca e garrafa vazia.
A culpa é destes filhos de casas disfuncionais.
Destes filhos de doença mental.
Filhos de realidades sociais precárias.
Filhos de ideais há muito ultrapassados.
Filhos sem pais.
Filhos de pressão social.
Filhos de solidão crónica.
Mas a culpa também é vossa,
mulheres.
É vossa por pensarem que somos todos assim.
A nossa maioria é de homens bons.
Homens que vos querem ver bem.
Que querem estar lá para o que vocês precisarem.
Queremos dar-vos amizades para a vida.
Celebrar a vossa essência.
Andar ao vosso lado. Nem acima, nem abaixo.
Ser bons pais.
Queremos amar-vos incondicionalmente.
Queremos dar-vos o universo.
Tal como nós temos as mulheres da nossa vida,
vocês têm os vossos bons homens.
Pais, avôs, irmãos, tios, primos, amigos, namorados, maridos.
Eles ensinam-vos também a apreciar um homem por tudo o que ele é.
Não serão eles a prova que os bons existem ?
Não percam a esperança em nós.
Magoa-me esta conotação negativa de ”homem”, nos dias de hoje.
Masculinidade não é tóxica.
Só o é quando usada da maneira errada.
Nós gostamos de ser homens.
Sim, nós mostramos afeto entre nós através de insultos.
Sim, nós bebemos cervejas a mais e entendemo-nos uns com
os outros de boca fechada e punhos cerrados.
Sim, às vezes, sem más intenções,
esquecemo-nos do nome dos vossos irmãos, mas sabemos as
estatísticas dos últimos 10 anos, de frente para trás, da nossa
equipa preferida.
Sim, gritamos ”Kobe” quando lançamos o que quer que seja para o
lixo ou para a roupa suja.
Sim, temos mais medo de falar convosco do que andar ao sopapo com
3 armários com o dobro do nosso tamanho.
Sim, não sabemos dançar.
Sim, odiamos compras e centros comerciais.
Sim, achamos poético mijar ao ar livre.
Sim, somos pragmáticos e despachados. Com sandes de atum e minis, damos a volta ao mundo.
Sim, gozamos com tudo e mais alguma coisa.
Sim, precisamos de noites de gajos regularmente, onde competimos
para ver quem consegue fazer ou dizer a coisa mais estúpida.
Sim, somos homens e gostamos de o ser.
Somos tudo isto,
mas também somos sensíveis.
Sei que nunca desconfiaram,
mas às vezes fingimos não o ser… é só para o número.
Quando vocês não estão a ver, nós também choramos uns com os outros.
Nós também estamos confusos e perdidos.
Também sonhamos e rimos.
Tal como vocês.
Também temos frio e borramo-nos às vezes com trovoada.
Também gostamos de comédias românticas do Adam Sandler e do MasterChef.
Também gostamos do cheiro das velas.
Também bebemos chá.
Também gostamos de manhãs e tardes de ronha agarrados a vocês.
Também odiamos o nosso corpo às vezes.
Também gostamos de ir passear ao domingo.
Também gostamos de jantares românticos.
Até invejamos as massagens de cabeça que vocês recebem no cabeleireiro.
Só não costumamos admitir estas coisas,
porque faz parte de ser homem não o fazer.
Somos assim e somos.
Fazer o quê.
Tentem aceitar isso sem nos tentarem mudar e sem nos levarem a mal.
Não somos iguais,
mas também não somos diferentes.
Vamos celebrar isto.
Por isso,
deêm-nos uma chance.
Em vez de nos julgarem a todos por meia dúzia de outliers
defeituosos,
vamos juntar-nos e lutar contra os mesmos.
Também não gostamos deles.
E já agora,
vocês mulheres também têm uns exemplos do vosso lado,
que não são tão exemplares quanto isso.
Mas fica tema para outro.
